sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

JORGE LEAL

APPROXIMATELY EIGHTY KILOS OF MATTER IN THE UNIVERSE

02 de Dezembro de 2010 a 15 de Janeiro de 2011



matéria. s.f.. 1. Substância que compõe qualquer corpo sólido, líquido ou gasoso. 3. Substância física, considerada em oposição a espírito.
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea

“(...)
you have never
seen
the Edge of
yourself
(...)
Charles Bukowski, The Last Night of The Earth Poems

Há cerca de meio ano recomecei a fazer auto-retratos dum modo continuado. Não foi uma busca autofágica, foi um regresso a um tema que em determinados períodos me tem servido para reavaliar o meu trabalho. Por outro lado, o meu desejo de começar a trabalhar o tema retrato de um modo mais continuado faz do auto-retrato o mais imediatamente exequível (e preparatório).

O auto-retrato sempre foi um mecanismo utilizado pelos artistas para fazerem um ponto da situação pessoal. Ao mesmo tempo é muitas vezes considerado como um gesto de cultivo de uma paixão narcísica. No caso destes trabalhos que apresento há, para além duma paragem e tentativa de estabelecer um ponto de partida para algo ainda incerto, um lado de desconstrução do meu ser social. São retratos calculados para mostrarem na mesma medida que escondem, numa clara simpatia pela ideia do falhanço de qualquer representação pictórica (apenas tintas orquestradas sobre tela). Isto remete igualmente para o excerto do poema do velho Buk, para a permanente cobardia perante a exposição total.

Os trabalhos que apresento correspondem a um conjunto começado no verão de 2009 em Barcelona e acabado em Lisboa em Novembro de 2010. Ao preparar a exposição tive sempre a intenção de ter, como complemento aos auto-retratos, imagens que traduzissem o confronto com outras fontes de interesse e me permitissem ser o mais genuíno possível na apresentação de mim mesmo. Talvez os cerca de oitenta quilos da minha matéria não fossem para mim tema suficientemente do espírito. A possibilidade de não atingir o limite enunciado pelo Bukowski é assumida. Um homem sem limitações é um homem sem carácter.

Novembro 2010
Jorge Leal




Rorschach

2010, óleo s/tela, 75x120 cm


Auto-retrato

2010, óleo s/tela, 120x80 cm



Auto-retrato

2010, óleo s/tela, 81x60 cm




Auto-retrato

2010, óleo s/tela, 90x62 cm



A Palm Tree

2010, óleo s/tela, 120x120 cm



Herbário

2010, óleo s/tela, 64x130 cm



Abbott

2010, óleo s/tela, 81x130 cm



Gibões

2010, óleo s/tela, 110x46 cm



Elefantes

2010, óleo s/tela, 146x114 cm




Auto-retrato

2010, óleo s/tela, 116x89 cm



Gauguin

2010, óleo s/tela, 75x92 cm



Auto-retrato

2010, óleo s/tela, 100x65 cm



Auto-retrato

2010, óleo s/tela, 100x81 cm



Auto-retrato

2010, óleo s/tela, 100x100 cm



Barajas

2010, óleo s/tela, 60x130 cm

Vistas da Exposição


































quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Lúcia Prancha e Sara Nunes Fernandes

Uma exposição de Lúcia Prancha e Sara Nunes Fernandes

14 de Outubro a 27 de Novembro

Exposição de Performance, Vídeo e Instalação


A Lúcia morava em São Paulo na altura, e a Sara em Londres. A Sara mudou-se para São Paulo durante dois meses e prepararam uma residência auto-gerida e independente nessa cidade. Durante esse período foram produzidos e documentados 3 eventos: um ensaio público entre duas bandas locais – o grupo de choro da ECA (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) e a banda punk D.I.Y Human Trash – na Praça do Patriarca em São Paulo; a produção pública de um filme no Museu Brasileiro da Escultura onde amigos e visitantes foram convidados a narrar a história possível dos seus antepassados, desde o mais antigo até ao mais recente; uma viagem filmada de bicicleta no Minhocão às 6h20 da manhã (o Minhocão é um viaduto para carros no centro da cidade que encerra ao trânsito rodoviário diariamente das 21h30 às 6h30).
Tinha surgido a possibilidade de uma exposição em Outubro em Lisboa e o trabalho desenvolvido foi-se adaptando ao formato da exposição. Cada documentação foi re-analisada de modo a re-apresentar de modo objectual o contexto de cada um dos eventos. Por outras palavras, se o método de documentação para cada um dos eventos foi diferenciado dependendo do contexto de cada um, já a própria apresentação da documentação foi formatada de modo a materializar da melhor forma possível a energia e contexto inerentes a cada um dos eventos.
Nos meses anteriores da exposição, e durante o período da colaboração, foi mantido entre as duas artistas um blog de pesquisa e esclarecimento do processo de colaboração:
http://negociatas.vivyanefernando.info






Uma viagem de bicicleta, mo Minhocão, às 6h20 da manhã (minutos antes da passagem a espaço funcional só para carros)
2010, vídeo PAL, 17´51''























































série de desenhos Gritos de Guerra
2010, caneta s/papel, dimensões variáveis (35 desenhos)




Grupo de Choro da ECA e Human Trash ensaiam em conjunto na Praça do Patriarca
2010, vídeo PAL, 59'11''



Réplica de totem de Lina Bo Bardi
2010, vidro e cimento, 185x90x40 cm


Vistas da exposição







quinta-feira, 23 de setembro de 2010

André Alves

O absurdo quer-nos de volta
Ou
O melancólico enquanto duplo.

desenho, vídeo e instalação

9 de Setembro a 9 de Outubro

A tragédia enleia-se no pensar como as pessoas falham. A tragédia não fala de um perdedor mas de eventual falha. Precisamente porque a tragédia não aceita ou permite o falhanço (porque a tragédia, deseja sempre a vitória, e a falha violenta o espírito), a tragédia aparece como grito, o sinalizar do inoportuno acontecimento.

A tragédia é sempre desapegada da ideia de impasse. O impasse é qualquer coisa de contrário ao espírito, porque bloqueia o sujeito na sua própria subjectividade. E aí o mantém refém. Nesse lugar, donde a tentativa de perceber o mundo é sempre irrazoável. Ainda que irrazoável, todas as contradições que o espírito mede devem ser vividas; sem a aceitação do absurdo, com a sua constante confrontação. E são elas, as absurdas e insólitas situações, que radicalmente pontuam as vidas de cada um.

Em O absurdo quer-nos de volta ou o melancólico enquanto duplo, procuro criar um percurso sobre “o que interessa” e é mobilizado para o agir.

A galeria não aparece apenas como motor metafórico mas parte de um sujeito - lugar. E neste caso, de um campo de estudo. Começo com essa ideia do falhar, e da aprendizagem para não falhar. E com a descoberta. E de quem a faz. E como.

O absurdo quer-nos de volta ou o melancólico enquanto duplo cria um contexto para uma mudança e a possibilidade de mudança: exibem-se as resoluções “contra o realismo”, e de que “o impasse é de ordem ética e não, estética.”

Ao longo deste percurso passam-se por “momentos” distintos, séries que traquejam a ambivalente relação sobre quem e o que se descobre. Há mais interesse pelo carácter de quem confronta a absurdez, antes de mais reconhecendo-o e aceitando-o. Por isso aqui chamo o melancólico e a sua conotada (e esquecida) natureza dupla, o defluxo que provoca ora resignação ora ânimo, e essa maravilhosa complexa gestão entre pousio e acção.

Em Os mesmos problemas, não interessa qual a natureza do complexo, mas a resolução do complexo. Em A dupla natureza da mudança examinam-se os “humores clássicos” (temperamentos pessoais que constituem os indivíduos), disfarce e farsa, o carácter de quem muda, de quem descobre. Em Quase a viver frisa-se que a escolha de um caminho complexo obriga sempre o olhar atrás, o legado, a tensão entre continuidade e permanência, corte ou reconhecimento. Em Serôdio somam-se estas questões pensando a ideia de papel a cumprir e sublinha-se (ou tenta-se) a crença de que todos devem ser empurrados e defendidos.






Contra o realismo

2010, técnica mista, dimensões variáveis

Interno/Eterno (série Os mesmos problemas)

2010, grafite s/papel, 66x50 cm

Safar/Sanar (série Os mesmos problemas)

2010, grafite s/papel, 66x50 cm

Imundo/Mundano (série Os mesmos problemas)

2010, grafite s/papel, 66x50 cm

Presente/Pressente (série Os mesmos problemas)

2010, grafite s/papel, 66x50 cm

Degustar/Desgostar (série Os mesmos problemas)

2010, grafite s/papel, 66x50 cm

Sudário/Sumário (série Os mesmos problemas)

2010, grafite s/papel, 66x50 cm

Revisa/Remissa (série Os mesmos problemas)

2010, grafite s/papel, 66x50 cm

Modéstia/Moléstia (série Os mesmos problemas)

2010, grafite s/papel, 66x50 cm

A absurda aflição do Melancólico (série A dupla natureza da mudança)

2010, grafite s/papel, 66x50 cm

A absurda aflição do Sanguíneo (série A dupla natureza da mudança)

2010, grafite s/papel, 76x56 cm

A absurda aflição do Fleumático (série A dupla natureza da mudança)

2010, grafite s/papel, 76x56 cm

A absurda aflição do Colérico (série A dupla natureza da mudança)

2010, grafite s/papel, 76x56 cm

Suporte (série Quase a viver)
2010, grafite s/papel, 110x75 cm

Revolução (série Quase a viver)
2010, grafite s/papel, 110x75 cm

Sucessão (série Quase a viver)
2010, grafite s/papel, 110x75 cm

Serôdio
2010, Dv-Pal, Cor, Som, 07'44''