O absurdo quer-nos de volta
Ou
O melancólico enquanto duplo.
desenho, vídeo e instalação
9 de Setembro a 9 de Outubro
A tragédia enleia-se no pensar como as pessoas falham. A tragédia não fala de um perdedor mas de eventual falha. Precisamente porque a tragédia não aceita ou permite o falhanço (porque a tragédia, deseja sempre a vitória, e a falha violenta o espírito), a tragédia aparece como grito, o sinalizar do inoportuno acontecimento.
A tragédia é sempre desapegada da ideia de impasse. O impasse é qualquer coisa de contrário ao espírito, porque bloqueia o sujeito na sua própria subjectividade. E aí o mantém refém. Nesse lugar, donde a tentativa de perceber o mundo é sempre irrazoável. Ainda que irrazoável, todas as contradições que o espírito mede devem ser vividas; sem a aceitação do absurdo, com a sua constante confrontação. E são elas, as absurdas e insólitas situações, que radicalmente pontuam as vidas de cada um.
Em O absurdo quer-nos de volta ou o melancólico enquanto duplo, procuro criar um percurso sobre “o que interessa” e é mobilizado para o agir.
A galeria não aparece apenas como motor metafórico mas parte de um sujeito - lugar. E neste caso, de um campo de estudo. Começo com essa ideia do falhar, e da aprendizagem para não falhar. E com a descoberta. E de quem a faz. E como.
O absurdo quer-nos de volta ou o melancólico enquanto duplo cria um contexto para uma mudança e a possibilidade de mudança: exibem-se as resoluções “contra o realismo”, e de que “o impasse é de ordem ética e não, estética.”
Ao longo deste percurso passam-se por “momentos” distintos, séries que traquejam a ambivalente relação sobre quem e o que se descobre. Há mais interesse pelo carácter de quem confronta a absurdez, antes de mais reconhecendo-o e aceitando-o. Por isso aqui chamo o melancólico e a sua conotada (e esquecida) natureza dupla, o defluxo que provoca ora resignação ora ânimo, e essa maravilhosa complexa gestão entre pousio e acção.
Em Os mesmos problemas, não interessa qual a natureza do complexo, mas a resolução do complexo. Em A dupla natureza da mudança examinam-se os “humores clássicos” (temperamentos pessoais que constituem os indivíduos), disfarce e farsa, o carácter de quem muda, de quem descobre. Em Quase a viver frisa-se que a escolha de um caminho complexo obriga sempre o olhar atrás, o legado, a tensão entre continuidade e permanência, corte ou reconhecimento. Em Serôdio somam-se estas questões pensando a ideia de papel a cumprir e sublinha-se (ou tenta-se) a crença de que todos devem ser empurrados e defendidos.
Contra o realismo
2010, técnica mista, dimensões variáveis
Interno/Eterno (série Os mesmos problemas)
2010, grafite s/papel, 66x50 cm
Safar/Sanar (série Os mesmos problemas)
2010, grafite s/papel, 66x50 cm
Imundo/Mundano (série Os mesmos problemas)
2010, grafite s/papel, 66x50 cm
Presente/Pressente (série Os mesmos problemas)
2010, grafite s/papel, 66x50 cm
Degustar/Desgostar (série Os mesmos problemas)
2010, grafite s/papel, 66x50 cm
Sudário/Sumário (série Os mesmos problemas)
2010, grafite s/papel, 66x50 cm
Revisa/Remissa (série Os mesmos problemas)
2010, grafite s/papel, 66x50 cm
Modéstia/Moléstia (série Os mesmos problemas)
2010, grafite s/papel, 66x50 cm
A absurda aflição do Melancólico (série A dupla natureza da mudança)
2010, grafite s/papel, 66x50 cm
A absurda aflição do Sanguíneo (série A dupla natureza da mudança)
2010, grafite s/papel, 76x56 cm
A absurda aflição do Fleumático (série A dupla natureza da mudança)
2010, grafite s/papel, 76x56 cm
A absurda aflição do Colérico (série A dupla natureza da mudança)
2010, grafite s/papel, 76x56 cm