terça-feira, 31 de maio de 2011

Paula Prates

Clivagem

Desenho / Pintura

De 26 de Maio a 18 de Junho



Entre as fissuras da estrutura mineral

O cristal é um sólido formado por arranjos internos de átomos e moléculas regularmente repetidas, e distingue-se pelas suas faces externas. As suas partículas assumem formas geométricas, tais como arestas, ângulos e planos, directamente ligadas à sua malha elementar. Lembrando paisagens, alguns cristais mudam de cor, como quartzo rosa ou ametista, que podem empalidecer em exposição prolongada ao sol.
Vem isto a propósito da exposição Clivagem de Paula Prates, na Galeria Sopro em Lisboa, a decorrer entre Maio e Junho de 2011, na medida em que, ao olharmos para os desenhos em tinta-da-china ou grafite, de imediato, os associamos à mineralogia e às configurações geométricas que os cristais assumem. Nas pinturas, as gradações de tons quentes sobre tons frios realçam a dimensão escultórica daqueles sólidos, que adquirem uma composição paisagística através da sua justaposição e sobreposição.
Recorrendo a vários meios, as obras que constituem a exposição, convidam a experimentar a noção de fractura inerente à estrutura do cristal. O termo clivagem, em mineralogia, designa a forma como os minerais se quebram seguindo os planos da sua estrutura interna. Em parte, o interesse pela constituição mineral e pela compreensão abstracta que as suas formas exigem, explica a intimidade da artista com a geometria. O horizonte de investigação plástica delineado pelo encontro das duas áreas – mineralogia e geometria –, tem vindo a ser reiteradamente confirmado pelo percurso desenvolvido por Paula Prates, ora no suporte bidimensional ora na expressão tridimensional. As instalações site-specific “Intervenção Pictórica” no espaço da Fábrica do Braço de Prata e “Arquitectonic” no Pavilhão 28 do Hospital Júlio de Matos, ambas em Lisboa (2010), são exemplo disso. Elas colocam à vista o princípio da geometria, a saber: a representação do espaço e dos objectos que podem ocupá-lo, dos volumes e coordenadas a eles inerentes, através da conversão para a linguagem bidimensional (e vice-versa). As obras anteriormente referidas, intercalam o registo pictórico com a arquitectura dos edifícios onde as mesmas foram expostas, como se as linhas, saindo das paredes e adquirindo espessura arquitectónica, se soltassem dos planos. A partir delas, somos levados a experimentar o edificado como um organismo vivo, em que o corpo inerte da arquitectura se liberta da sua rigidez e estaticidade. O mote que subjaz a esta orgânica, activa um jogo entre as linhas, os planos e os materiais dando forma ao espaço, gerando um lugar de relações, de superfícies e vazios – tensões que se mostram sem se materializar. Não é estranho, portanto, que através do conjunto de obras apresentado na exposição Clivagem, possamos ver também a representação plana a adquirir tridimensionalidade. Não se trata apenas de, por analogia ou semelhança, poder discernir composições volumétricas oriundas do universo geológico nessas representações. Elas adquirem espacialidade própria por abrirem um campo de clivagem para a projecção da nossa experiência real, onde a falha, a queda e a perda podem ter lugar. No desenho, as gradações do grafite ou da tinta-da-china e os brancos fornecidos pelo papel abrem para nós horizontes de profundidade, que se estendem para lá da galeria onde se mostram, rompendo virtualmente a sua construção física. De facto, nestas obras abre-se um espaço para a projecção do nosso corpo que, frente a elas, é obrigado a procurar a sua posição. Estes corpos-pictóricos, de onde está ausente qualquer figuração humana, comportam-se perante nós como paisagens depuradas, abrindo um hiato em frente do qual, estando nós com os pés assentes na terra, temos a sensação de poder imergir. Deste modo, não estamos dentro nem fora da tela, nem incluídos nem excluídos do perímetro que as obras ocupam, mas antes «apanhados» no seu intervalo de tempo ou clivagem. Esta ideia de fissura está já presente noutras séries da artista, nomeadamente, “Diferent views” (2008), “Seven other directons” (2009) e, sobretudo, “Caos-nuvem” (2009), um conjunto de pinturas sobre o estado gasoso que adquire aí constituição mineral. É na fracção de tempo, ténue passagem entre o gasoso e o mineral, que ocorre a clivagem. A partir dela, podemos experimentar a intensidade das pequenas rupturas como se fossem o acontecimento total.


Sara Antónia Matos


Maio de 2011





Clivagem #3

2011, óleo s/ tela, 115x150 cm



Clivagem #2

2011, óleo s/ tela, 100x135



Intrusão

2011, tinta da china e aguarela s/ cartão, 82x120 cm



Paisagem #5

2011, tinta da china e lápis de grafite s/ cartão, 41x60 cm



Paisagem #1

2011, tinta da china s/ cartão, 41x60 cm



Paisagem #3

2011, tinta da china e lápis de grafite s/ cartão, 41x60 cm



Paisagem #6

2011, tinta da china s/ cartão, 41x60 cm



Paisagem #2

2011, tinta da china e lápis de grafite s/ cartão, 41x60 cm



Paisagem #4

2011, tinta da china s/ cartão, 41x60 cm



Não São Só Rochas #8

2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Não São Só Rochas #10

2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Não São Só Rochas #9

2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Não São Só Rochas #7
2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Não São Só Rochas #6
2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Não São Só Rochas #5
2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Não São Só Rochas #4
2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Não São Só Rochas #3
2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Não São Só Rochas #2
2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Não São Só Rochas #1
2011, lápis de grafite s/ papel, 20x20 cm



Zona de Risco #1

2011, tinta da china s/ cartão, 82x120 cm



Zona de Risco #3
2011, tinta da china s/ cartão, 41x60 cm



Zona de Risco #2
2011, tinta da china s/ cartão, 41x60 cm



Clivagem #1

2011, óleo s/ tela, 100x135 cm



Vistas da exposição









































sexta-feira, 6 de maio de 2011

Iraida Lombardia


A origem do meu Mundo


Instalação multidisciplinar


De 28 de Abril a 21 de Maio



“Em qualquer fotografia, mesmo quando as aparências são coerentes, os elementos que entendemos/percepcionamos como “reais”, não passam de meras ilusões, “a simulação da realidade adaptada/moldada à vontade” (1). (…)aqui encontra-se a questão essencial: pode um retrato representar uma pessoa? Roland Barthes procurava a sua mãe morta nos álbuns de fotografia de família; porém, quanto mais se debruçava sobre a essência da sua identidade, mais se debatia entre imagens particularmente autênticas que se revelavam, por conseguinte, totalmente falsas. O retrato fotográfico de Margarita Alonso é quase ela, mas assumir este quase, implica assumir que não é ela. Consciente da “substância de um engano” (2), Iraida Lombardia emprega um discurso rizomático recorrendo a diversos elementos – objectos, som e multimédia – que interagem com a fotografia central, reduzindo a sua ambiguidade, “o abismo entre o momento registado e o momento em que se observa” (3). Esta amplitude de representação só pode ser possível quando se olha para o caminho que ficou para trás, recolhendo sinais e eventos, linguagens e memórias, dando um significado através da conexão dos elementos e relacionando histórias aparentemente desconexas. (…) Mais do que nunca, consumimos bulímicamente um maior número de imagens, mas faltam informações para podermos interpretar a realidade através delas, sendo assim apenas miragens, ilusões. E mais do nunca, temos que nos socorrer dos filósofos que desde Platão, sempre tentaram “reduzir essa dependência, evocando um modelo de apreensão do real livre de imagens” (4)

Excerto de texto da autoria de Jaime Luis Martín, retirado do catálogo da exposição El origen de mi mundo, na Pinacoteca Municipal de Langreo Eduardo Úrculo, Langreo, 2009



(1) Abel H. Pozuelo: “No se ve, no se toca, está fuera de campo”, Centro de Arte Joven, Comunidad de Madrid, 2009
(2) No trabalho de Iraida Lombardia, a fé é usada como algo que nos faz acreditar na verdade de uma fotografia e na pureza de uma paisagem: a substância de um engano”, Abel H. Pozuelo, “No se ve, no se toca, está fuera de campo”
(3) John Berger Y John Mohr: “Ottra manera de contra”, Editorial Mestizo, Murcia, 1998, p.88
(4) Susan Sontag: Sobre la fotografiía, Ed. Edhasa, Barcelona, 1996, p.163




Margarita





(1/3) 2009, lambada print, 150x150cm

Vídeo, corvo, som








Estante 2

(1/3) 2009, Fotografias





Macieira

(1/5) 2009, lambada print, 75x75cm

Caixa de costura, video em loop, som



Hortense

(1/5) 2009, lambada print, 75x75cm




Jarro com flores murchas

(1/5) 2009, lambada print, 50x50 cm




Bloco

(1/3) 2009, lambada print, 50X50 cm

Fotografias e vídeo em loop




Cemitério

2009, lambada print, 50x50 cm

Mesa, espelho e diapositivos, som




Solar

(1/5) 2009, lambada print, 75x75 cm




Estante 1

(1/3) Fotografia (1950), 18x13 cm, rádio




Vistas da Exposição