segunda-feira, 3 de setembro de 2012

André Alves

Estado d'época

06 de Setembro a 22 de Setembro



Estado d’ época é um ensaio sobre a ideia de acção.

O nome da exposição funciona como um truque de ilusionismo, propositadamente apontando à ideia de espírito de época ou zeitgeist, embora falando aqui  sobretudo sobre o estado palpável ou incerto das coisas. Por essa razão ganha o nome de Estado d’época e não Espírito d’época.
Esta exposição forma um discurso a dois braços.
Um primeiro aspecto toca um discurso o que diz esta arte ao contexto alargado do agora. Ainda que qualquer produção toque acidentalmente este tipo de relação, aqui, ela é usada para pensar o estado das coisas e dos paleios que quotidianamente nos circulam (na sua permanência, ou pretensa permanência, na sua volatilidade, na sua engenhosa condução ou sedução de vontades). Em particular a obra Todos Temos Que Ir, procura essa relação, atenta à poética camoniana do eterno-retorno profundamente arraigada sobre Portugal: a abalada. Poética ecoada contemporaneamente em comentários políticos de fraca expressão e grande vulgaridade, sugerindo um outro lembrete de partida: a morte.
O segundo forma-se a partir de uma circunscrição mais apertada (relativa aos processos que geram as obras desta exposição) e que nos fala de transitoriedade, de acção e de aparência. Um dos aspectos fulcrais nessa linha de pensamento, são os processos  escolhidos para gerar nova obra: a queima de obra em acervo e uso da cinzas para a criação de nova, a lógica do memento mori e a ironia da sua materialização, a presença enquanto realidade histórica. 
Estado d’ época propõe um gesto concentrado, um gesto declarativo. E daí que a exposição seja ela mesma concentrada; ou até mesmo limitada. Em acervo encontrará outros trabalhos recentes que abordam outras direcções de discurso. O acervo está aberto à visita.

Todos temos que ir
Alumínio martelado, esmalte
Dimensões variáveis (comprimento aproximada 80cm)
2012









 
Etiqueta sem nome | Todos os nomes
Etiquetas papel
Dimensões variáveis (área aproximada 1mt2)
2012





 




 

Desafogo
Impressão Fujitrans montada sobre caixa de luz
70x100 cm
2012
 

 
Quando o gesto agarra a forma resgata o sentido da palavra.

 É através de um jogo intrincado de formas, linhas e manchas, que ora se sobrepõem ora se apagam e deixam a descoberto, que André Alves pensa, constrói e reconstrói os seus Desenhos. O branco do papel é a testemunha imaculada por onde discorrem os processos entre os opostos: o claro- escuro; a transparência-opacidade; a linha-mancha são os vestígios de um desenho começado antes de haver desenho, entre a razão do gesto e a emoção da Palavra; entre a projecção do desenho e o acto de desenhar; entre um futuro que é passado. É neste território intangível e enigmático entre opostos que encontramos a obra de André Alves. Uma obra que se estende por diferentes suportes (video, instalação, fotografia), onde se lança a corda entre o sentir e o pensar e onde podemos baloiçar entre significações, interpretações e palavras.

                                                             Dalila Gonçalves (2012)